Durante muitos anos, aquele homem profetizou no deserto: vai chover, vai chover. Ninguém lhe dava ouvidos. Até que, um dia, choveu. Na véspera, o profeta havia morrido de sede.
Sinto-me um pouco assim: um profeta anunciando chuva no deserto. Até concordo que é preciso ter esperança, é uma virtude teologal. Difícil é saber o que significa ter esperança sabendo que, enquanto virtude, ela não está ao alcance do dinheiro, divindade mais cultuada entre os homens de hoje. O mantra deste culto é: “tendo dinheiro, eu posso”. Ricos e pobres pensam assim: aqueles por possuírem, estes por desejarem. Possuir e desejar, dois verbos próprios da liturgia econômica, cujo mandamento único é o lucro, o acúmulo. Dentro dessa lógica, o que sobra para a esperança?
Somos todos concordes que o mundo vai mal, mas quem está disposto a renunciar a que? A esperança não está para aquilo que podemos controlar e resolver. Para isto, concordo, o dinheiro quase que basta – nem é preciso esperança, é suficiente ter dinheiro. Só é possível ter esperança quando aquilo que nos move a tem para nos oferecer. Se o que nos move é o dinheiro, teremos apenas aquilo que o dinheiro nos oferece. Se o que nos move é Deus, precisamos aprender a viver de outro modo. O que Ele nos oferece? Também a esperança.
Um profeta anunciando chuva no deserto é alguém que acredita em outra coisa, é alguém movido por outra força. É alguém com outra sede. Encontrará outros com sede semelhante? Ao ritmo que estamos indo, cada vez menos. O dinheiro não cria fartura, ele gera necessidades. E quanto mais rico o mundo, mais escasso e deserto se torna. Do homem rico, diz salmista: “Ao morrer nada poderá levar/ sua glória não descerá com ele”. Uma esperança que dependa de dinheiro, não é esperança, é escravidão. Só tem esperança evangélica quem já superou as necessidades do dinheiro.