Certa vez, o rabi Mendel de Kozk supreendeu alguns homens cultos que o visitavam com a pergunta: “Onde Deus mora?”. Eles riram dele. “O que você está falando? O mundo está cheio do seu esplendor!”. Mas ele respondeu à própria pergunta: “Deus mora onde permitimos que entre.” [...] Só podemos deixá-lo entrar no lugar onde estamos, onde estamos de verdade, lá onde vivemos, onde vivemos uma vida de verdade.
(Martim Buber, O caminho do homem)
Jesus entrou na sinagoga de Cafarnaum, aonde certamente Pedro também ia. Jesus entrou na casa de Pedro, porque sua família precisava. Jesus entrou no trabalho de Pedro, subindo em sua barca. Jesus entrou nas ideias de Pedro, para ajudá-lo numa nova compreensão. Mas onde Jesus deseja realmente chegar é ao coração de Pedro. E, o mesmo, deseja fazer conosco. Um dos meios de que se utiliza é frequentar os mesmos lugares, ir aonde estamos, fazer-se um conosco em nosso dia a dia, tal como se deu com Pedro. A pedagogia da aproximação. Assim nascem amizades. Assim nascem amores. Assim escreve-se histórias. Assim se chega ao coração.
Agora, olhemos para nós. Num curtíssimo espaço de tempo, a presença física vem sendo substituída pela (não)presença virtual. Chegou a internet, o Wi-Fi, o sinal da rede; as pessoas, no entanto, se afastaram. Digo mais: não só o sinal da rede, com ele chegaram tantos outros sinais. Péssimos sinais. Graves sinais. Gritantes sinais, ainda que silenciosos (muitas vezes). Solidão. Tédio. Cansaço. Indiferença. Insônia. Ansiedade. Dependência digital. Buffet digital. Doping cerebral. Os algoritmos são as novas rédeas que guiam o cavalgar das mentes, principalmente, a das gerações Y e Alpha. “A sociedade do cansaço, enquanto uma sociedade ativa, desdobra-se lentamente numa sociedade do doping” (Byung-Chul Han, A sociedade do cansaço).
Concordo que precisamos caminhar no nosso tempo, viver a vida no hoje, pensar com os pés de agora. Nem viver de saudosismos gloriosos, tampouco, viver iludido no país do futuro. O que não podemos é trocar os caminhos. Há carência de discernimento para filtrar o que nos é oferecido. A pedagogia da presença (cada vez mais ausente), sempre será relembrada pelos evangelhos e, para qualquer tempo, qualquer época será sempre atual. Qualquer que seja, se não conduz ao coração, então não é um bom caminho.