e quanto às sextas-feiras santas de hoje?
não aquelas de banquetes piscitarianos,
manjares frutíferos provindos do mar,
ou ainda,
desfrutes praianos ao sol
ou campestres, em alguma choupana
refiro-me às que já se tornaram
normais ou anônimas ou invisíveis:
o bêbado da tua rua
o estorvo idoso da tua casa
a mentira no teu trabalho
o descaso da repartição pública
a indiferença no cotidiano
as tragédias noticiadas
o adversário – antes era teu irmão
o nojo do pobre, ao estilo são Francisco antes de Assis
na minha igreja farisaica,
a seleção anti-eclesial,
só porque a vida não é canônica
o condomínio de luxo e o
com domínio à força
a fé ao modo milagre sim – seguimento não
a vida artificial
a inteligência artificial
o ser humano artificial
o comércio de armas, de drogas, de órgãos, de corpos
os aplausos aos belos discursos
[e a vida segue pendurada no madeiro]
mas para que serve o que digo?
se dos que digo assim seguirão
se aos que digo, nem ouvidos me darão
se quando digo, culpado também sou?
resta a esperança: ainda hoje...
resta o pedido: Pai, perdoa-lhes...
quando o que mais se houve: tenho sede...
será?
a fé sem cruz é um ilusório otimismo